Crítica XXI

Portugal é há quase meio século governado pelas esquerdas. Se estendermos a ideia de poder ao campo cultural, podemos dizer que esse domínio é até anterior à Revolução e permanece mesmo quando as direitas governam. 

Disto não resulta apenas que as direitas e o seu pensamento sejam mal conhecidos; resulta uma atmosfera cultural e mediática acomodada e maniqueísta sem espaço para a interrogação crítica. 

Crítica XXI quer dar a conhecer a tradição intelectual das direitas e os seus desenvolvimentos actuais, olhando para valores, ideias e princípios com liberdade incondicional.

Índice

N.1 OUTONO 2022

P. 5 A MINHA VIAGEM PELA DIREITA E AS DIREITAS
Jaime Nogueira Pinto

Direita e Esquerda são conceitos interdependentes, lugares geométricos inicialmente baptizados a partir de lugares cativos em assembleias políticas fundacionais – o Parlamento britânico e as Constituintes pós-revolucionárias francesas – e definidos segundo as convicções dominantes dos grupos que ali se sentavam: à direita do Speaker ou do Presidente, os conservadores, à esquerda os progressistas. 

P. 17 NACIONALISMO: UM RETORNO?
José Luís Andrade

O mais recente conflito no leste europeu e a explosão de emotividade que causou em todo o mundo fez retornar o nacionalismo às primeiras páginas. Quer se manifeste através dos ímpetos imperialistas chineses, russos, americanos, ou mesmo das convulsões provocadas pela natural arrumação hierárquica dos países que compõem a União Europeia, os mais atentos já intuíram que por detrás dessas pulsões está a defesa e afirmação de 

P. 30 CARL SCHMITT E O DECISIONISMO – Cem Anos depois
Alexandre Franco de Sá

Há exactos cem anos, na Alemanha da República de Weimar, um jovem professor de direito de 34 anos – Carl Schmitt – publicava um pequeno livro que se tornaria uma fonte ininterrupta de discussão e polémica: Teologia Política: quatro capítulos para a doutrina da soberania. Neste texto, num quadro de predominância filosófica do neokantismo e em polémica aberta contra a filosofia do direito normativista de Hans Kelsen, uma das maiores 

P. 39 EUTANÁSIA – Morte da pessoa e do direito
Mafalda Miranda Barbosa

De tempos em tempos, somos confrontados com a tentativa de consagração legal do que, eufemisticamente, é designado por direito a uma morte assistida, como se, no quadro da sociedade portuguesa, não houvesse nenhum problema mais premente ou como se, em rigor, houvesse alguém que negasse a existência de um direito fundamental de acesso a cuidados de saúde, incluindo os cuidados paliativos. O certo é que, de forma paradoxal

P. 54 DE UM LIVRO AO OUTRO – o exemplo da Nouvelle Droite
Duarte Branquinho

Um livro pode inspirar-nos, motivar-nos e, especialmente, fazer-nos pensar. Quando nos acompanha da adolescência à meia-idade, continuando a ter o mesmo efeito, sabemos que temos em mãos uma arma poderosa a aplicar no combate cultural permanente em defesa dos nossos valores fundamentais. Este é um relato pessoal de um encontro com livros, ideias e pessoas, mas sem saudosismos – antes com uma visão de futuro. Foi no Verão 

P. 61 O  QUE SÃO OS LUSÍADAS N’OS LUSÍADAS
Carlos Maria Bobone

De que é que trata Os Lusíadas? A pedagogia liceal ensina que Camões escreveu a epopeia de um povo: o herói não é o Gama nem a viagem à Índia o verdadeiro tema; de facto, Vasco da Gama é pouco mais do que um embaixador apagado, que conta ao Rei de Melinde os feitos dos portugueses de antanho, e as peripécias da viagem resolvem-se com intervenção dos Deuses, sem dar azo a especiais marcas de heroísmo humano. Esta tese

P. 70 ISTO DÁ VONTADE DE MORRER- Alexandre Herculano, o liberalismo do século XIX e a cultura portuguesa contemporânea.
Rui Ramos

Alexandre Herculano morreu há 145 anos, a 13 de Setembro de 1877. Nenhum outro intelectual português teve, em vida, o poder de Herculano. Mais do que escrever livros – fez uma literatura; mais do que comentar acontecimentos – inspirou-os; mais do que tentar compreender o mundo em que vivia – transformou-o. Herculano foi o autor de um dos romances portugueses mais reeditados do século XIX (Eurico, o Presbítero); dirigiu

RECENSÕES

P. 83 O PADRINHO, COMO NOVO AOS CINQUENTA ANOS
Miguel Freitas da Costa

O Padrinho como quase toda a gente já deve saber, fez agora cinquenta anos. Estreado a 15 de Março de 1972 nos Estados Unidos, The Godfather estreou em Portugal a 24 de Outubro do mesmo ano. Está constantemente a ser reposto. Não é fácil encontrar muitos outros filmes que resistam tão bem à passagem do tempo.

 

P. 88 THE DIALECTIAL IMAGINATION: A HISTORY OF THE FRANKFURT SCHOOL AND THE INSTITUTE OF SOCIAL RESEARCH, DE MARTIN JAY
A ESCOLA DE FRANKFURT E A ESCOLA QUE FEZ
José Maria Cortes

O projecto de Frankfurt parece suicida, mas pouca coisa sopra tanta vida no filósofo contemporâneo como o passo para o cadafalso, cada silogismo apertando mais a corda ao pescoço. Se alguns, com Nietzsche à cabeça, deram páginas à negação da vida, outros houve que as encheram da negação da vida mental

P. 94 GUERRE, DE LOUIS-FERDINAND CÉLINE
Jaime Nogueira Pinto

Apesar de a Segunda Guerra ter sido mais longa, mais mortífera e de consequências geopolíticas mais fundas, a Primeira Guerra Mundial, a de 14-18, ficará sempre como “a Grande Guerra” – também porque dela nasceu um século revolucionário, com as revoluções comunista, fascista e nacional-socialista, que deram origem a regimes que também foram desaparecendo ao longo do século.

P. 99 ULYSSES, DE JAMES JOYCE:  A RECENSÃO QUE PESSOA NÃO FEZ.
Inês Lage Pinto Basto

Nasceram os dois no século XIX, na década de 80 – Joyce a 2 de Fevereiro de 1882, Pessoa a 13 de Junho de 1888 –, tiveram os dois uma educação predominantemente anglo-saxónica e católica, consideravam-se os dois génios e, na sua pose típica, aparecem-nos os dois de óculos, chapéu e bigode: Joyce a olhar de frente para a câmara, Pessoa desviando quase sempre o olhar.

P. 107 AS DOENÇAS DO BRASIL, VALTER HUGO MÃE
Carlos Maria Bobone

Parecia boa ideia. Valter Hugo Mãe devolvia escondido na prosa o açúcar que trouxemos do Brasil, exibia a nudez entre tribos índias mais acostumadas à exposição pública, o candomblé acobertava os sentimentalismos e a natureza freava o mau gosto de algumas metáforas, parecia de facto uma boa ideia: uma história desfraldada ao Brasil tribal tinha tudo para encobrir as maiores fraquezas de Valter Hugo Mãe e para se acomodar ao estilo do autor.

Crítica XXI - Nº 1 | Outono 2022

ASSINATURA
50

4 revistas+4 livros BCF

REVISTA AVULSA
10

Número Revista Individual