Crítica XXI

Portugal é há quase meio século governado pelas esquerdas. Se estendermos a ideia de poder ao campo cultural, podemos dizer que esse domínio é até anterior à Revolução e permanece mesmo quando as direitas governam. 

Disto não resulta apenas que as direitas e o seu pensamento sejam mal conhecidos; resulta uma atmosfera cultural e mediática acomodada e maniqueísta sem espaço para a interrogação crítica. 

Crítica XXI quer dar a conhecer a tradição intelectual das direitas e os seus desenvolvimentos actuais, olhando para valores, ideias e princípios com liberdade incondicional.

NÚMERO 9 . OUTONO 2024

Neste número da Crítica XXI, Jaime Nogueira Pinto, em “Utopias, da Primeira à Última”, faz uma história do pensamento utópico a propósito do filme de Francis Ford Coppola, Megalopolis. Partindo da utopia de Morus e passando por Marx e pelas distopias do século XX, chega ao chamado wokismo ou progressismo radical como última utopia.

É também desta família “utópica” que se ocupa Carlos Blanco de Morais em “Contracultura e Rebelião das Minorias Identitárias”, estudando os movimentos que, à esquerda e em nome das identidades e culturas “oprimidas”, contestam as actuais democracias liberais euroamericanas.

Miguel Freitas da Costa trata do famoso Der Untergang des Abendlandes, A Decadência do Ocidente, de Oswald Spengler, um livro de grande sucesso e importância quando saiu, em 1918, e que volta a ter influência nestes tempos de pessimismo.

“É Tintim um herói católico?” é a pergunta de António Leite da Costa, um grande conhecedor e admirador do adolescente belga criado por Hergé.

Em “Destrivialização do Juízo moral e Hipermoralismo”, João Tiago Proença parte da ideia de que a Revolução Francesa, ao dessacralizar a legitimidade do poder, consagrou a autoridade do dinheiro e das armas – poderes essencialmente materiais.  Modernamente, defende o autor, dada a ausência de legitimidade transcendente, essa legitimidade assente no nada parece ter desembocado numa nova trivialização do juízo moral sob a forma de um hipermoralismo esvaziado orgulhoso do seu maniqueísmo.

Este ano de 2025 é também o dos 200 anos do nascimento em 1825 de Camilo Castelo Branco. A partir de algumas considerações gerais sobre o romance e o romantismo, Carlos Maria Bobone, em “Os Brilhantes de Camilo”, jogando com o título Os Brilhantes do Brasileiro, abre um tempo de celebração do grande escritor.

O liberalismo conservador, uma ideologia que tem visto os seus dois termos afastarem-se, acabou por não ter grande presença ou destino em Portugal. Rui Ramos, em “As origens do liberalismo conservador em Portugal”, reflecte sobre essa realidade política e ideológica através da vida e obra de um seu representante na primeira metade do século XIX, José da Silva Carvalho.

Completam esta edição as Notas Críticas de Miguel Freitas da Costa, Carlos Maria Bobone e Jaime Nogueira Pinto de livros de Christophe Guilluy, Pedro Serra-Lino, Pedro Correia e João Van Zeller.

DIRECÇÃO JAIME NOGUEIRA PINTO E RUI RAMOS