Crítica XXI

Portugal é há quase meio século governado pelas esquerdas. Se estendermos a ideia de poder ao campo cultural, podemos dizer que esse domínio é até anterior à Revolução e permanece mesmo quando as direitas governam. 

Disto não resulta apenas que as direitas e o seu pensamento sejam mal conhecidos; resulta uma atmosfera cultural e mediática acomodada e maniqueísta sem espaço para a interrogação crítica. 

Crítica XXI quer dar a conhecer a tradição intelectual das direitas e os seus desenvolvimentos actuais, olhando para valores, ideias e princípios com liberdade incondicional.

NÚMERO 6 . INVERNO 2024

Este número 6 de Crítica XXI abre com um artigo de Jaime Nogueira Pinto, “A Direita e as Direitas – A Direita Revolucionária” que, continuando a série sobre a conceptualização das direitas, trata das origens francesas da direita revolucionária, com o populismo no fim do século XIX; e depois se detém nas fundações do primeiro fascismo mussoliniano.

Em “Do intelectual militante ao militante intelectual”, Alexandre Franco de Sá analisa estas “figuras”, detendo-se nas obras e na experiência de autores activistas como Gramsci, Lukács, Sartre; passa depois ao papel dos académicos contemporâneos na esfera universitária anglo-saxónica e ao seu reflexo contraditório  entre uma bela imagem (rebelde) de si mesmos e a imposição dos dogmas do pensamento correcto a que se dedicam.

Léo Strauss, um dos muitos judeus alemães emigrado para os Estados Unidos, é um pensador determinante do conservadorismo contemporâneo. Em “50 anos da morte de Léo Strauss”, Tomás Cruz evoca o pensador crítico de Maquiavel e Hobbes, lembrando a sua análise singular da modernidade maquiavélica, como ruptura com o pensamento dos clássicos.

Carlos Maria Bobone, editor da Crítica XXI, faz em “Linhas Vermelhas” uma história breve deste conceito; é, na conjuntura pré-eleitoral, um texto muito oportuno em termos de avaliação de alianças e estratégias.

João Pedro Marques, que tem estado presente na resposta às fábulas e caricaturas progressivas da História portuguesa, vem, em “Portugal e a questão do trabalho forçado nas regiões tropicais”, fazer a rectificação às acusações de prática de trabalho forçado no Império africano português.

André Abranches em “Da interpretação dos grandes livros” aconselha os leitores dos Clássicos a lê-los directamente, no próprio texto, sem mediadores. Mas, a propósito de interpretações, relata uma polémica Leo-Strauss- Alexandre Kojève, dois autores contemporâneos que nos ajudam na leitura crítica dos Antigos.

Prosseguindo com os seus textos sobre o Liberalismo em Portugal, Rui Ramos, no seu artigo “A Guerra Civil como Guerra Religiosa”, explica a importância do factor religioso na divisão entre liberais e miguelistas que levou à mais dura das guerras civis em Portugal. Na visão diferente e oposta de religião esteve a mais profunda, por irreconciliável, causa da guerra.

Duarte Branquinho ouviu em entrevista Jean-Yves Gallou, um representante da “Nova Direita” identitária francesa, que se tem dedicado no espaço público à acção político-cultural, uma acção que tem dado frutos políticos constantes e crescentes.

Passando às Notas Críticas, Luís Alvim faz a recensão do polémico livro de Nuno Palma, As causas do atraso português. O autor foi objecto de grandes ataques da Esquerda, especialmente por fazer justiça ao Estado Novo, em matéria de alfabetização e de desenvolvimento económico, Mas a razão das razões do atraso, teria a ver com o absolutismo pombalino, suspendendo a representação popular e criando monopólios. O ouro do Brasil e os fundos europeus acrescentaram à letargia nacional.

Outra recensão é de Jaime Nogueira Pinto ao último livro de Emmanuel Todd, o autor francês que, em 1976, previu o “fim da União Soviética”, 25 anos depois. O pior é que, desta vez, com factos e argumentos fortes de suporte, Todd fala da “Derrota do Ocidente”.

Vasco Cordovil Cardoso leu The Case Against the Sexual Revolution – A new guide to sex in the 21st century, como o testemunho de alguém que conheceu e viveu de boa-fé a referida revolução. E que fez a respectiva autocrítica.

Miguel Morgado é um académico da área do pensamento político, da Filosofia e da Ciência Política. Desta vez entrou numa área fronteiriça – a Geopolítica. Lívia Franco faz a recensão crítica dessa incursão, em Uma Genealogia da Geopolítica Europeia

DIRECÇÃO JAIME NOGUEIRA PINTO E RUI RAMOS