Crítica XXI

Portugal é há quase meio século governado pelas esquerdas. Se estendermos a ideia de poder ao campo cultural, podemos dizer que esse domínio é até anterior à Revolução e permanece mesmo quando as direitas governam. 

Disto não resulta apenas que as direitas e o seu pensamento sejam mal conhecidos; resulta uma atmosfera cultural e mediática acomodada e maniqueísta sem espaço para a interrogação crítica. 

Crítica XXI quer dar a conhecer a tradição intelectual das direitas e os seus desenvolvimentos actuais, olhando para valores, ideias e princípios com liberdade incondicional.

NÚMERO 5 . OUTONO 2023

Neste número de Crítica XXI (Outono de 2023), o quinto publicado e o primeiro do segundo ano da revista,  Jaime Nogueira Pinto, em “A Direita e as direitas: Contra-revolucionários e conservadores”, ocupa-se da identificação e caracterização das famílias direitistas, descrevendo identidades e diferenças entre contra-revolucionários e conservadores; fá-lo através da análise do pensamento de alguns dos seus representantes – Joseph de Maistre, Louis de Bonald e Juan Donoso Cortés, para os contra-revolucionários; e René de Chateaubriand, Alexis de Tocqueville e Edmund Burke, para os conservadores.

Em “A Nação e a sua Imagem”, Francisco Carmo Garcia estuda o conceito e a importância política da Nação a partir da teoria schmittiana, sempre uma chave-mestra para o entendimento do político na idade contemporânea.

Em “Dádiva Familiar”, Daniela Silva analisa os sinais de ruptura e permanência da instituição da Família no mundo euroamericano de raiz cristã e expõe o que, na sua perspectiva, seria recomendável.

Em “Introdução ao Conservadorismo” Miguel Morgado traz a debate o significado dos termos “conservador” e “conservadorismo” na teoria e na realidade políticas de hoje.  O tema não pode ser mais actual, já que o termo “conservative”, em voga desde sempre no mundo e na direita anglo-saxónica, encontra algumas dificuldades na sua tradução para as direitas de tradição euro-continental. 

Mas se a conceptologia à direita é complexa, à esquerda também assistimos a alguns movimentos tectónicos. A Nova Esquerda dos anos 60 e 70 do século passado, marcada pelo neo-marxismo e pela substituição gradual e subtil da vulgata estaliniana por um Marx revisto e aumentado por Gramsci e pela Escola de Frankfurt, não para de envelhecer perante as novidades das esquerdas do momento. Patrícia Fernandes em “O Wokismo não existe?”, reflecte sobre a intensificação das exigências culturais do paradigma identitário e a sua extensão a todos os níveis da vida política e cultural, na detecção e punição de agressões cada vez mais “micro”.

Em “Um Fidalgo à frente da Esquerda Radical – Saldanha entre 1820 e 1834” Rui Ramos centra-se em João Carlos de Saldanha, duque de Saldanha, figura chave do liberalismo português. Na linha dos ensaios sobre o século XIX português que tem vindo a publicar  na Crítica XXI, Rui Ramos lança sobre o homem e a época um olhar singular e rigoroso.

“Afinal vale a pena ler Jordan Peterson?” é a pergunta de Carlos Maria Bobone a respeito do intelectual anti-correcção política que se tornou um fenómeno de popularidade. Reconhecendo a contradição, o autor acaba por concluir que a divulgação da filosofia não terá só desvantagens. 

As Notas Críticas abrem com uma crónica de Miguel Freitas da Costa sobre o Manifesto Comunista de 1848, de Marx e Engels, e a sua actualidade. Com o colapso da União Soviética e depois da passagem da China para o capitalismo de direcção central, podia pensar-se que o marxismo era um sistema político acabado. Mas não. Renasce e ninguém parece interessado em pedir contas aos seus novos seguidores pelas tragédias do passado.

O revisionismo das personagens e das histórias da BD clássica e da literatura infantil é hoje uma nota obrigatória, com a Disney ou com a reedição censurada de autores como Roald Dahl. Spirou, a popular criatura de Rob-Vel, Jijé e Franquin, também não escapou. Eurico de Barros dá conta do sucedido em “O assassinato de Spirou ou a descaracterização radical de um clássico da banda desenhada”.

Também em Notas Críticas, José Lorêdo Filho, em “Gonçalves Dias e o luso-brasilismo”, evoca a poesia de Gonçalves Dias no segundo centenário do seu nascimento, em 23 de Agosto de 1823, em Caxias, no Maranhão, considerando-o um representante e um bom produto da luso-tropicalidade. Miguel Freitas da Costa recorda os quase oitenta anos de Casablanca, um filme que não envelheceu. Jaime Nogueira Pinto faz a recensão da breve biografia de Abel Chivukuvuku de José Eduardo Agualusa, um livro que, a propósito do carismático ex-dirigente da UNITA, conta uma história breve mas incisiva da Angola Independente. 

Finalmente, em “O Mundo Livre de Louis Menand” Carlos Maria Bobone faz a recensão do longo compêndio de Menand sobre essa paisagem larga e recortada por acidentes e surpresas que é a “cultura ocidental” nos tempos da Guerra Fria.

DIRECÇÃO JAIME NOGUEIRA PINTO E RUI RAMOS