Crítica XXI

Portugal é há quase meio século governado pelas esquerdas. Se estendermos a ideia de poder ao campo cultural, podemos dizer que esse domínio é até anterior à Revolução e permanece mesmo quando as direitas governam. 

Disto não resulta apenas que as direitas e o seu pensamento sejam mal conhecidos; resulta uma atmosfera cultural e mediática acomodada e maniqueísta sem espaço para a interrogação crítica. 

Crítica XXI quer dar a conhecer a tradição intelectual das direitas e os seus desenvolvimentos actuais, olhando para valores, ideias e princípios com liberdade incondicional.

NÚMERO 4 . VERÃO 2023

Este número de Crítica XXI abre com um texto sobre a modernidade política de Maquiavel. Partindo dos valores do Florentino – Pátria e Liberdade, em sentido romano –, Jaime Nogueira Pinto percorre 500 anos de História e procura imaginar como veria Maquiavel os conflitos actuais e a nova ordem internacional.

“Carisma” e “carismático” são palavras banalizadas de que políticos e comentadores usam e abusam. José Pedro Zúquete faz a anatomia do conceito e a memória e a síntese politológica do “dom da graça”. 

Thomas Hobbes (1588-1679) é um dos autores fundamentais da Filosofia Política ocidental; e é, com Maquiavel, um pessimista antropológico e um dos fundadores da escola realista, cujas premissas procuram uma conciliação comunitária entre Liberdade e Autoridade. Francisco Carmo Garcia analisa o que a Ciência Política e a própria Política contemporânea devem ao autor de De Cive.

A propósito do centenário do nascimento de Agustina Bessa Luís (1922-2019), José Carlos Seabra Pereira revê e interpreta a obra desta escritora fundamental para o entendimento da sociedade portuguesa do século XX. 

Chinua Achebe (1930-2013) foi um escritor e professor nigeriano de grande reputação crítica que dissecou as percepções dos europeus sobre África e os africanos. Foi a partir de uma das suas últimas obras, em que o anti-colonialista Achebe destacava a importância da herança colonial para a construção das identidades africanas, que Bruce Gilly escreveu um dos artigos académicos mais controversos dos últimos tempos. Miguel Freitas da Costa historia o seu atribulado percurso editorial e a polémica a que deu origem.

No segundo centenário da Vilafrancada, o golpe militar com que D. Miguel de Bragança pretendeu revogar a Constituição de 1822 e devolver ao pai, D. João VI, as prerrogativas da monarquia tradicional, Rui Ramos revisita este “miguelismo precoce”, analisando-o na conjuntura político-social do tempo, historiando as reacções estrangeiras ao golpe e reflectindo sobre o seu fracasso.

Miguel Morgado conversa com Daniel Mahoney, um dos principais colaboradores da revista Law and Liberty, sobre a actualidade político-cultural. Claro, articulado, directo e desassombrado, Mahoney identifica um estado de “guerra civil intelectual” nos Estados Unidos e critica o maniqueísmo que hoje domina a América do Norte.

No final, José Valle de Figueiredo evoca António Manuel Couto Viana, no centenário do seu nascimento; Carlos Maria Bobone dá conta do último livro de Lívia Franco sobre os seus antepassados monárquicos na guerra da República; e José Maria Cortes recensiona The Rise and Triumph of Modern Self, de Carl R. Trueman.

DIRECÇÃO JAIME NOGUEIRA PINTO E RUI RAMOS