Crítica XXI

Portugal é há quase meio século governado pelas esquerdas. Se estendermos a ideia de poder ao campo cultural, podemos dizer que esse domínio é até anterior à Revolução e permanece mesmo quando as direitas governam. 

Disto não resulta apenas que as direitas e o seu pensamento sejam mal conhecidos; resulta uma atmosfera cultural e mediática acomodada e maniqueísta sem espaço para a interrogação crítica. 

Crítica XXI quer dar a conhecer a tradição intelectual das direitas e os seus desenvolvimentos actuais, olhando para valores, ideias e princípios com liberdade incondicional.

NÚMERO 2 . INVERNO 2022-2023

Neste número de Inverno de 2022-2023 da revista Crítica XXI, em “1922-2022: Os outros anos vinte”, Jaime Nogueira Pinto recorda a conjuntura pós-Grande Guerra, com as revoluções comunista e fascista, analisando as ideias e as forças então em conflito e comparando esse tempo com o que estamos agora a viver.

Miguel Morgado, em “A ordem política do Amor”, analisa o Amor como um dos três princípios de edificação da ordem política; um princípio presente, por aclamação ou rejeição, na tradição de filosofia política do Ocidente, de Platão a Leibniz e até hoje.

Muito se tem especulado sobre o renascimento do fascismo através dos populismos nacionais europeus. Em “Fascismo e populismo: Afinidades e diferenças”, um texto inédito, fixado a partir de uma conferência em Madrid de 28 de Outubro de 2022 e traduzido por Ricardo Marchi, Marco Tarchi, historiador e politólogo italiano, compara os dois fenómenos, concluindo que, entre eles, são mais as diferenças do que as semelhanças.

Passou em 18 de Novembro o centenário da morte de Marcel Proust.  No breve ensaio “De Combray ao estado natural snobesiano”, Francisco Felizol evoca o autor de À la recherche, tratando um tema central da sua vida e obra – a evolução do desejo mimético, por simpatia ou demarcação, e os ritos e riscos do snob e do snobismo na complexidade das relações sociais.

Em “Um ideal por cumprir: Portugal e Brasil nos 200 anos da independência brasileira”, Alexandre Franco de Sá aproveita o 200º aniversário da independência do Brasil para reflectir sobre a relação entre as duas nações lusófonas, e as imagens cruzadas, as ambiguidades, as distorções ideológicas e os clichés de que também é vítima.

As redes sociais já foram um espaço de nostalgia, descoberta e redescoberta, um espaço aberto à liberdade e à inovação. Em “Redes sociais: Vigiar e punir”, Joana Emídio Marques fala-nos de algumas das mudanças entretanto ocorridas. 

Depois de ter traçado o perfil de Alexandre Herculano no primeiro número da Crítica XXI, em “‘Um rouxinol que se mascarou de peixe’: António Sérgio e as transformações do liberalismo português no século XX”, Rui Ramos retrata outra figura central do nosso liberalismo; e através das suas errâncias deixa-nos também um panorama político-intelectual do século XX em Portugal. 

Jean Luc Godard, que morreu em Setembro de 2022, foi um realizador franco-suíço, autor de filmes de culto como À Bout de Souffle e Pierrot le Fou, e de uma vastíssima filmografia política, classificada “à esquerda”, mas com algumas contradições. É destas contradições que trata Eurico de Barros, em “Godard: direita (extrema)-esquerda”. 

The Waste Land (Terra sem vida ou Terra desolada, em português), de T. S. Eliot, foi considerado pela crítica um dos maiores poemas do modernismo. Na passagem do centenário da sua publicação, Maria do Rosário Lupi Belo evoca o grande poema, a par de Os Coros da Rocha e da obra “religiosa” de T.S. Eliot, reflectindo sobre o seu significado profético e a actualidade incómoda das perguntas com que nos confronta.

Soberania, dos seus usos e abusos na vida política é um livro de Miguel Morgado sobre um dos conceitos chave da Política, que o autor tem vindo a tratar. Leonor Durão Barroso faz aqui a recensão crítica da obra, em que o conceito é analisado historicamente e relacionado com o Estado, de que é a base, e com o Direito, que ele fundamenta e que o limita.

Hartmund Rosa é um dos actuais representantes da chamada “tradição crítica”, conhecido pelos seus conceitos de Ressonância e de Aceleração Social. Ainda que tributário da Escola de Frankfurt, nesta obra de síntese – The Uncontrollability of the World –, o politólogo e sociólogo alemão aplica os princípios da teoria crítica, desviando-se da tradição desconstrutivista. O que para José Maria Cortes é uma surpresa tão agradável como “ver uma criança bonita ao colo de pais pavorosos”.

Luís Filipe Thomaz é um dos grandes historiadores do nosso tempo. Carlos Maria Bobone encontra neste Ucrânia – As Lições da História e outros Estudos sobre o Oriente Cristão a mesma metodologia que fez dos seus estudos sobre a Expansão um antídoto contra a historiografia ideológica e um verdadeiro alargamento da perspectiva sobre o papel português no Índico.

DIRECÇÃO JAIME NOGUEIRA PINTO E RUI RAMOS